Missa Tango e lendas do Alto Minho animam Viana do Castelo nos próximos dias 6 e 7 de dezembro
2018-12-04
O que liga a missa ao tango, a lenda sobre um maroto nobre do Alto Minho, apelidado de D. Sapo, ao cantor popular repentista Augusto "Canário” e o folclore com um muro repleto de saloias casadoiras? Aparentamente nada disto tem relação, mas nos próximos dias 6 e 7 de dezembro, há 250 artistas musicais que, em cima do palco do Centro Cultural de Viana do Castelo, às 22h00, vão mostrar que tudo, bem dirigido pelo prestigiado maestro alemão Ernst Schelle, se pode transformar num belo e inédito espetáculo. São 150 vozes e 75 músicos que vão protagonizar um programa único.
A iniciativa decorre no âmbito do projeto "Sente a História – Ação Promocional de Música & Património – Novas Abordagens, Novos Talentos” que, até julho de 2019, está a realizar 30 concertos em 30 locais históricos do Alto Minho, envolvendo mais de 1500 músicos e 10 municípios. Este é já o décimo terceiro concerto da iniciativa e prepara-se para receber 2000 pessoas em cada dia, perfazendo mais de 4000 espectadores em apenas dois dias.
A Missa Tango, com enorme sucesso a nível mundial e como o próprio nome indica, é uma obra musical que consiste numa missa, com as partes habituais (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei), mas totalmente inspirada no tango argentino. Composta em 1997 por Luis Bacalov, foi escrita para orquestra sinfónica e coro, contando ainda como solistas um cantor (barítono), uma cantora (mezzosoprano) e um bandoneón: instrumento musical de palhetas e fole, aparentado com a concertina ou o acordeão, mas cromático, tal como um piano. É um instrumento virtuosístico, de sonoridade central e incontornável do tango argentino.
Já a obra Canção da Lenda de D. Sapo, que será estreada neste concerto, pertence a um conjunto de 10 obras corais encomendadas pela iniciativa "Sente a História” a compositores de referência, baseadas nas lendas do Alto Minho, uma de cada concelho. Seis compositores, do jazz à música erudita, compuseram sobre as palavras do sentir tradicional (10 peças corais polifónicas e o Hino do Alto Minho): Afonso Alves, Eurico Carrapatoso, Carlos Azevedo, Fernando C. Lapa, Mário Laginha e Telmo Marques.
No caso em concreto da Canção da Lenda de D. Sapo, a sua letra foi escrita pelo cantor repentista Augusto Canário e a música composta por um dos principais compositores portugueses da atualidade, Eurico Carrapatoso. A obra baseia-se na lenda de Cardielos, onde um nobre que por lá dominava, D. Florentim (apelidado pelo povo de D. Sapo), tinha o hábito de exigir aos seus súbditos o "direito da primeira noite”, em que todas as noivas recém-casadas passariam a primeira noite com ele, antes mesmo de se deitarem com os seus maridos. O povo submetia-se a esta prática aviltante por medo das represálias ou por dependência.
Até que apareceu um jovem noivo de Cardielos que não estava disposto a partilhar a noiva. Convenceu os anciãos a irem falar com o Rei. Chegados lá, disseram ao monarca que havia um sapo em Cardielos que andava a perturbar tudo e todos, ao que o mesmo terá respondido que o matassem à sacholada. O povo assim fez. Quando os nobres, amigos de D. Florentim, denunciaram ao rei o homicídio, seria de esperar um fim trágico para os autores da ação. Contudo, sua majestade teve de engolir em seco pois havia passado um alvará autorizando a erradicação do sapo. A astúcia e irreverência do jovem noivo triunfou e, em Cardielos, nunca mais nenhuma noiva foi obrigada a dormir com o senhor feudal.
Do programa faz ainda parte a interpretação de O Muro do Derrête, de Frederico de Freitas que, inspirado no facto de no último domingo da Feira das Mercês, em Sintra, dezenas de saloias casadoiras esperarem sentadas muro abaixo na espectativa de que os saloios viessem inspecioná-las e escolhê-las para namoradas, compôs esta obra para orquestra incorporando como é habitual no seu estilo, ritmos, melodias e timbres do folclore português.
Frederico de Freitas nasceu em Lisboa em 1902 e morreu em 1980. Ligado a várias organizações promovidas pelo Estado Novo, e por isso, muitas vezes conotado com este, e com o estilo nacionalista e patriótico, incorporando na sua música elementos do folclore português. Compôs música para filmes relevantes do ideal do Estado Novo: A Severa (o primeiro filme sonoro português), O Pátio das Cantigas, As Pupilas do Sr. Reitor e Fado, entre outros.
Os concertos têm entrada livre e os bilhetes devem ser obtidos na bilheteira do Teatro Sá de Miranda, em Viana do Castelo.
Sobre o "Sente a História”
O programa cultural "Sente a História – Ação Promocional de Música e Património – Novas Abordagens, Novos Talentos” apresenta características inéditas no país. Centrado na capacitação, valorização e no desenvolvimento de competências de diferentes gerações de músicos locais, bem como na criação de novos talentos, o programa decorre de 13 maio de 2018 a 20 de julho de 2019 e envolve os municípios de Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira.
Além de permitir uma experiência de história ao vivo, onde a música vai ao encontro da arquitetura dos monumentos, contempla três linhas de programação (bandas filarmónicas, coros e jovens solistas do Alto Minho em contexto de música de câmara), tendo como objetivo surpreender o público com novas abordagens e novos talentos.
As bandas filarmónicas, com os novos maestros a garantirem o rejuvenescimento desta arte na sequência das ações de capacitação deste programa, vão atuar em contexto de concerto com interpretações surpreendentes com jazz, rock, fado, música barroca, popular ou erudita, em formato acústico ou com o som amplificado.
No que diz respeito aos coros, vai estar também patente o cruzamento da tradição com a inovação. Exemplo disso é o facto de o cantor popular repentista Augusto "Canário” ter escrito as letras das canções que vão invocar as lendas da região. Em paralelo, seis compositores de referência do jazz à música erudita (Afonso Alves, Eurico Carrapatoso, Carlos Azevedo, Fernando Lapa, Mário Laginha e Telmo Marques) compuseram sobre as palavras do sentir tradicional, 10 peças corais polifónicas dedicadas a uma lenda de cada município e, ainda, um Hino do Alto Minho. Vozes de todos os coros da região vão fundir-se no Coro Intermunicipal do Alto Minho, num gran finale a encerrar o projeto em julho de 2019, onde interpretarão todas as canções das lendas e o Hino do Alto Minho.
De modo a fomentar os tesouros patrimoniais do Alto Minho, os dias em que ocorrerem os concertos serão também de património aberto, ocorrendo ainda visitas e tours guiados. Os horários das aberturas e os locais de interesse a visitar serão divulgados em www.senteahistoria.com, app e nas redes sociais da iniciativa. Em simultâneo irá decorrer um passatempo onde os visitantes poderão registar fotografias suas, tiradas nessas visitas e concertos, habilitando-se a ganhar vouchers para desfrutar em restaurantes da região.
A iniciativa é organizada pela CIM Alto Minho, produzida pela Eventos David Martins e cofinanciada pelo Norte2020 – Programa Operacional Regional do Norte e encontra-se integrada no Ano Europeu do Património Cultural em Portugal.